segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A menina que amava pipas

Havia uma menina que adorava acompanhar o vôo das pipas. Fascinava-a imaginar que papéis suavemente coloridos e tão finos ao ponto de serem transparentes contra a luz pudessem se tornar bravos planadores dos ares, que resistiam ao vento que investia contra eles, como se perguntando se era aquilo que realmente eles queriam fazer. Exatamente por isso, papéis aliaram-se a varetas, cola e rabiola, pediram ajuda a linha para que pudessem embrenhar-se nas alturas sem serem levados embora sem nem, ao menos, terem alçado vôo. Seu fascínio pelas pipas começara quando ela, ainda muito pequena, debruçava-se na janela, curiosa, observando aquela espécie de pássaros que precisavam ser amarrados, tal qual coleira, para poderem voar. Seus olhinhos alcançavam o céu lá longe e seu coração já, desde então, desenhava o desejo de ser como elas: as pipas! A menina cresceu, conheceu o amor que lhe batera à porta, mas a imagem das pipas voando no céu instigava-a sem ela compreender o porquê mantinha seu olhar sempre triste como se lhe faltasse algo. Era diferente observar o vôo dos pássaros. Embora não lhe prendessem o olhar, ela lia em seus vôos a liberdade do ir e vir e uma alegria que não sentia mais. Buscava em suas lembranças, quando havia sido o momento em que isto acontecera: a perda da ingenuidade contida na infância! Que protege os sonhos de criança da realidade. Que inventa super heróis mas não lhe ensina depois em que acreditar para prosseguir, desarmado de super poderes, de linhas invisíveis que te alçam ao vôo, mas que te prendem, te seguram em segurança, mas que te aprisionam sem lhe permitir ver o que há adiante do horizonte...
Num flash, então, de súbito ela compreedeu. Seu amor pelas pipas conduziu-a a enveredar-se no mesmo vôo: um amor de prisão. Onde ela buscou, primeiramente, alguém que lhe segurasse a linha para ela poder voar. Sentiu o prazer do vento embalando seu corpo, chegou a brincar com outras pipas no ar, mas avistou o por-do-sol lá longe, desejou chegar lá, mas seu coração entristeceu-se ao ver que, amarrada à linha, jamais chegaria àquele lugar. Chorou noites e dias, desejou, até mesmo, cortar de si própria aquela que era, ironicamente, sua protetora e sua algoz. Quem lhe permitiu partir da terra firme em que nascera, sem lhe contar o alto preço a pagar. Nunca, jamais ir além, em busca de seu próprio vôo, o seu desejo de dançar sem vergonha nenhuma no ar. De rodopiar quantas vezes quisesse, nem que isto implicasse em correr riscos... Pois de que adiantaria permanecer num vôo tão longo, seguro, sem sentir o verdadeiro prazer de planar, livre no ar? E, num repente, viu-se com a linha arrebentada junto ao seu corpo. Não porque assim havia decidido, mas porque a mão que segurava a linha decidiu assim! Sentiu-se perdida! Não sabia o que fazer! Teve medo e quase sucumbiu. Mas aos poucos, descobriu que ao se separar da linha, perdia a segurança, mas ganhava o horizonte...
Esta historinha eu dedico a quem ousou sonhar e voar! Ainda que parecesse um vôo louco, um rumo incerto. Que choraram de dor, da perda de um amor, do filho, mas que seguem... Não com a dureza de quem nada sente, nem com a futilidade que banaliza sentimentos. Que admite querer o amor, ainda que o horizonte lhe pareça longe. Mas que crê e permite confiar no Invisível, naquilo que a gente não compreende. Em especial, a Lili, a menina que dança e rodopia no ar. E que está reaprendendo o Amor para, tão somente, confiar...

3 comentários:

  1. É, cunhada, é bom poder libertar a imaginação através da escrita. Escrever é uma paixão. Quanto mais a gente escreve, mais se apaixona; assim como o amor. O amor verdadeiro, aquele que liberta nossa alma, que estimula nossos sonhos e que nos permite viajar pela imaginação.
    Parabéns, estou gostando dos textos.
    Beijos
    Ed.

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  2. Que delicia amiga , acabo viajando em suas escritas...Beijos millll...Voce viu tá chegando a hora de ir São Silvestre.kkk tó pilhada.

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  3. Ed!!! concordo com tuas palavras: o amor verdadeiro liberta nossa alma, estimula nossos sonhos..." A escrita é uma forma de expressar o que vai lá dentro! Se amor,amor...
    Rosy... fico imaginando como você deve estar aceleradissima com aproximidade da SS... vou no seu coração, tá bem? E qd for fotografar, pense que estou lá junto... Fico na torcida... Adoro você, minha mentora de blog...
    E vá fundo nos teus sonhos!!!

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