Vamos conversar?

Vamos conversar?

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Era uma vez… (Zero outra vez?)


Era uma vez um par de pés que ia sempre com outro par de pés estrada afora. Debaixo da ponte pescar. Nas tias de longe. Na praia longínqua que parecia ser o privilégio guardado como presente, como herança pelo par de pés pai.

Par de pés filha pegou gosto! Foi aprendendo andar com as próprias pernas. Abraçou o presente e se pôs na estrada. Descobriu a linha do horizonte. E descobriu que esta linha é só um risco que atiça e convida a ir além. Porque quando você chega lá, a linha já andou um pouco além. E ela sempre te chama. Você vai, avança e não para de descobrir horizontes mais!

A porta se abre, sim. Não se você ficar esperando a melhor hora. Tudo em torno estar certo e você estar pronto pra ir. A gente vai assim mesmo! Porque é o caminho que prepara a gente pra próxima porta, a próxima parada, a próxima dúvida, a próxima resposta…

A vida pode ser apenas o dia após o outro. Prever-viver.
A vida pode ser um dia mais outro. E mais outro. E outro. E outro. Uma soma constante e ininterrupta! Que enriquece e aquece o coração.

Nesta metade da vida, descobri que o mais importante herdei. A maior riqueza trago comigo! E neste caminho, o necessário se leva nas mãos, pouca bagagem, excesso é bobagem, vive-se com pouco, porque aqui do lado de fora da gente, sorriso é moeda de troca que vale mais do que dinheiro. Com ele, muito ou pouco, as coisas acontecem de alguma forma. Existem sempre dois caminhos. O fácil e o difícil. E inúmeros outros caminhos mais. Que você cria se realmente quiser ir.


Ando reescrevendo minha história! Finalmente, entendi que este ir pra frente não significa fazer cada vez mais. Mas fazer bem feito, viver bem vivido, de coração sincero, dentro do possível para o momento, mesmo que, nariz torto, contrariada, lhe pareça ter retrocedido, voltar a um zero daquela andança toda que já fez!

Zero, meu amigo, não é insignificância! Não é ausência no caminhar. Não é vazio de feitos. Não é ter perdido o que já se ganhou. Zero é ponto de partida! É start! É de onde eu vou. Sempre vou… 

sábado, 16 de dezembro de 2017

Tô de boa


-Tô de boa, eu respondo.
-O que aconteceu?
-Nada. Ou tudo! Como preferir…
-Como assim?
-Coisas aconteceram. Delas, imaginei miliuma outras mais. Algumas vieram no caminho. Outras escaparam. Outras jamais aconteceram. E duasmiliuma, não sei ainda.
-Não entendo. É esta dúvida que te faz ficar assim… De boa???

Desenho a minha melhor cara de felicidade. A cara mais sincera e desprevenida de despreocupação, rasgo um sorriso maroto e chuto:

-As certezas acontecidas são apenas o registro seguro do vivido. É no que tá lá na frente, nebuloso, sem forma que residem as possibilidades infinitas. É duvidoso. Mas eu tenho a chave!

Num esforço de fazer cara de “entendi” vejo um sorriso amarelo, talvez, cinza de falta de cor na vida.

-Nunca pensei deste jeito…
-As portas passadas estão trancadas. As adiante, não! E sou eu que abro as que eu quiser e passo nas que eu quiser. Melhor. Posso abrir, espiar, passar ou partir. Mas as portas não vêm até mim. Sou eu que tenho de seguir no corredor.
-Hummmm…
-Vou dizer que é fácil, não. Há tempos que passo apressada, malemá espio as portas. Vou sempre nas mesmas. As que parecem ter aquilo que já sei. Já sei viver. Já sei fazer. Fico com a impressão de fazer bem demais e cada vez melhor ainda. Fico exibida e feliz.. Mas é puro comodismo. Pra não dizer medo. Aí, perco as outras portas!

Me sinto fitada com uma cara que não se disfarça a sua total incompreensão.

-Há outros tempos que de tão cega, tropeço. Do tropeço, o tombo. Dalguns, me levanto rápido e prossigo. Doutros, a prostração provocada é tão grande que mal me reconheço. Fico esparramada no meio do corredor, de cara pro chão, tentando levantar pelo menos a cabeça pra conseguir enxergar onde foi que parei. O que foi que me fez cair. Pra onde devo seguir.

Quando o curso do piloto automático é interrompido, assim, bruscamente, sem mandar aviso, ou obedecer o nosso prepotente comando, dá uma pane. Ligar o piloto manual é assustador! Porque, anestesiada, já não prestávamos mais atenção no caminho. Nem na porta. Na verdade, a grande verdade é que colecionávamos portas, ao invés de histórias.

Fato.

Precisou eu cair miliuma vezes neste corredor pra compreender…

Tô de boa não é uma fala de desdém. De quem não liga, não ligou e não vai ligar se ver o céu amanhecer roxo, se as pessoas que amei partirem, se o tempo acabar.


Tô de boa é aceitar que o caminho percorrido teve tropeços, sim, choros, sim, intermináveis soluços pelo perdido. Mas incontáveis vezes de recomeço de levantar, mesmo sem saber se ia aguentar. De sequer ter ideia e descobrir, no caminho uma força não sabida pra se manter em pé, em movimento

Tô de boa é poder olhar pra frente sem desespero. De medo de não ter mais tempo de viver um infinito de “ses”. Porque se tem a certeza de ter dito todas as palavras trancadas dos euteamo, meperdoe, quisefiz. E poder se dar ao luxo de ficar de papo pro ar, lavar a louça se quiser,  porque não mata deixar a casa um pouco virada, só pra ficar de rainha, atoaatoa, estátua!

Tô de boa é se esquecer de números de produtos, de vitórias, de coleçõesdefiz!  De zerar as cobranças. A dos outros e aquelas mais cruéis. Daquele apontador de dedo implacável que parecia não descansar nunca. A gente mesmo.

É chegar a um ponto, debaixo de uma boa sombra, não ter mágoa, nem o orgulho besta de ser perfeita. Ter errado, mas não doer mais. De ter tentado, mesmo sem ter entendido os sins, os nãos, os talvez. E acima de perdoar os desencontros e perdoar a mim mesma.

Só assim, a gente deixa de levar pedras do caminho, fazendo peso e pesar o andar… 

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Uma hora acontece!

Você já viu alguma coisa que está na cara que vai acontecer? E que ficar dizendo que não, é o mesmo que por escoras nunca árvore gigante que decidiu que vai cair, sim senhor?
Então...
 

Certas coisas são tão óbvias que você olha, olha, olha e dizer que não vai acontecer é como querer ser cego naquilo que não tem jeito, mesmo. É como enxugar gelo.

A vida é mesmo engraçada! A negação é engraçada, igualmente… Falo de coisas que o tempo traz, o tempo leva, o vento faz de conta que não sabe e quando se vê, já trouxe de volta… A gente resiste, resiste, resiste e, acaba deixando pra lá. Meio que faz de conta que não vê que perdeu a briga. De não deixar acontecer.

Vivo ligada. Andando, conversando, de papo pro ar e atenta no olhar, vou como se fotografando o meu passar. Fotografo conversas. Fotografo frases. Fotografo imagens que me chamam atenção pra escrever. Então, estou lá eu passando pela calçada da árvore caída e não resisto. “Uma hora, cai!” Uma hora, acontece!


É uma imagem óbvia. No muito, colocaria escoras. Todo mundo vê e todo mundo deve pensar o mesmo. Vai cair. Mais dia, menos dia, cai!

Na hora me remeteu à metáfora que ela representa. Certas coisas óbvias de serem, existirem e acontecerem, são disfarçadas, camufladas e escoradas. Podem até segurar por algum tempo o desfecho óbvio. Mas a natureza não pode ser abafada. Nem tampouco, é possível nadar contra a maré. A força natural daquilo que nasce pra ser assim ou assado derruba as escoras que teimam dizer não.

Tô me vendo meio assim. A árvore está envergada… Falta pouco pra encostar no chão. Esta tal da natureza parece entender muito bem do que somos feitos. O que sentimos, o que queremos. Acho que é como dar murro em ponta de faca. Chover no molhado.

E se eu fizer da árvore tombada, um banco? E da história inacabada um conto em tempo real?

Só sei uma coisa. Árvore pode mudar de nome e virar banco, mas será sempre árvore. A história pode por fim e depois, dizer que virou trilogia, saga, seriado e por isso, nunca acaba. Pode dizer o que quiser. Camuflar até o fim. Mas o que tem de acontecer, acontece. Pode demorar o que for. Uma hora acontece… 

domingo, 10 de dezembro de 2017

A praça e suas histórias


Estive, noites destas, na pracinha perto de casa. Já não se fazem mais praças como antigamente… Ou será: já não se fazem mais frequentadores de praça como antigamente?!

Vi uma cena que seria digna de se esfregar os olhos, apertá-los para fixar bem o olhar e ver se era real ou uma miragem. Pai e filho brincando de bicicleta pela praça! Brincando de correr um atrás do outro cortando os caminhos da pracinha. Joia rara. Não se vê mais isso! Pais com filhos em praças brincando. Bicicletas como brinquedo sem maiores pretensões além do prazer de brincar de andar de bicicleta. Praças com vida!


Sou do tempo que praça significava espaço de lazer, de se ir com filhos pra brincar no parquinho que era algo como obrigatório nas praças da cidade. Um espaço cheio de brinquedos de se pendurar e cair naquela areia que podia não ser a mais limpinha pra se por o pé descalço, a mão que fazia montinhos que imitavam comidinha e onde, também, se sentava pra se brincar com o que estivesse a mão, galho, folha, pedrinha, pedrona que faziam parte do repertório infantil que imaginava nestes objetos, panelinha, comidinha, bichos, super heróis!

Praça era o espaço pra reunir crianças que vinham de perto e de longe, brincavam juntas sem fazer cerimônia, que oferecia pouco e tudo! Sombras de árvores que se despejavam sobre o gramado que convidavam para picnics improvisados, bancos que viviam cheios de gente que não economizavam horinhas de boa prosa naquela camaradagem típica de um tempo onde todo mundo conhecia todo mundo. E quando não conhecia, acabava conhecendo!

As praças foram se esvaziando. Foram se tornando espaços abandonados, descuidados e nada atraentes ou seguros. Ficaram vazias de crianças. De vizinhança. E os pais deixaram de buscar espaços para levarem seus filhos pra brincar lá fora!

Houve, também, uma substituição de personagens. Adultos saem de casa agora com seus cãezinhos, enquanto as crianças ficam dentro de casa, distraídas por brinquedos eletrônicos. Vejo praças com adultos e cachorros e não vejo crianças brincando. Aí, nestes raros momentos em que vejo crianças perambulando nas praças, fico feliz da vida de ver que há pais ainda que brincam com seus filhos.

O mais legal do que vi foi justamente a bicicleta na praça. Há tanta norma proibindo isso e aquilo que não seria difícil alguém passar por ali, olhar e achar ruim. De estarem, pai e filho, andando de bicicleta na praça. Como se fosse melhor proibir… A cara marota, tanto de um como de outro, denunciava a cumplicidade alegre entre eles. Quer tesouro melhor a se guardar do que colecionar momentos assim?


E a bicicleta estava no seu exato papel. Brinquedo. Não era uma trilha casca grossa, com altimetria cheia de dígitos, pra fotografar e contar o feito. Era só uma praça. Que tem mais esta história pra guardar e contar. 

domingo, 3 de dezembro de 2017

Performance ou Lazer? Com que cara você corre a corrida da vida?


Para que você pratica atividade física?
A grande maioria vai responder “lazer”.
SQN.

Vou falar minha opinião, pela minha própria experiência e observação do que via e vejo hoje. Sou educadora física. Fui atleta da Ginástica Olímpica. Fui sedentária por anos. Retornei à atividade física por imposição médica. Na obrigação mesmo. Fui tomando gosto. Naquelas doses homeopáticas de endorfina, saudáveis, inofensivas. Adentrei o mundo da corrida sem querer, por acidente. Progredi. Descobri capacidades esquecidas. Desenvolvi estratégias de superação à dor que me possibilitaram e me mantiveram anestesiada por um lado e totalmente ligada por outro. Ao ponto de querer mais, sempre mais do meu corpo, que aprendeu a responder e ir além. Viciei. Fiquei cega e desaprendi o motivo dos meus primeiros passos na atividade física. O prazer! Porque o prazer que vem do lazer é prazer. O prazer que vem da performance é, bem. Os loucos entenderão. É loucura…

É totalmente polêmico mas vou ter o atrevimento de falar sobre isso.

Dou uma pequena volta pelo lago. Pelo aterro. Antes de virar modinha (minha forma rebelde de criticar esta explosão no meio fitness), as pessoas caminhavam, algumas poucas corriam sem tanta fantasia “eu sou runner”. O que era necessário? Vontade, pernas, uma camiseta qualquer, um shorts um tênis confortável. Só.

Não sou contra esta necessidade natural de pertencimento do ser humano, fazer parte de um grupo e estas combinações que foram surgindo de se correr em grupo. Torço o nariz quando a cor da camiseta (leia-se sou de tal assessoria), ser mais importante do que o prazer de correr. De um prestígio desnecessário. Assim como desnecessário é a parafernália de assessórios para mostrar que é corredor. Eu uso também, quando é necessário. Mas se quiser, corro descalça, de shorts jeans no gramado do aterro.

Lembro das aulas de Educação Física. O que eram aqueles educativos do atletismo? Chatos demais para quem não corria de verdade. Hoje, vejo gerações que odiavam estas mesmas aulas de Educação Física,  pagando pra fazer o quê? Educativos. Não são atletas profissionais, nem de ponta em meio aos amadores. E não estou tirando o devido mérito dos resultados destes mesmos educativos para quem os pratica disciplinadamente. Só não entendo o que faz uma pessoa se empenhar tanto por resultados, deixando de lado a sua busca primeira. Aquela que toda criança experimenta quando bota sua máquina de se mexer em movimento. P R A Z E R!

Uma coisa que passei a reparar e se vê muito por aí. Repare as caras de quem corre. Isso mesmo. Tem cara de feliz? Ou tem cara de sofrimento? Não ignoro o cansaço. Isso faz parte para quem está progredindo. Mas… Cara de sofrimento? Para quê mesmo você começou a correr? Então…

Hoje, no aterro, vi uma mulher fazendo treino na areia. Treino de impulsão, saltos realizados repetidamente. Hoje é domingo. Sozinha. Ficou algum tempo ali, exercitou e foi embora. Na hora me veio esta pergunta na cabeça. “Performance ou prazer?” Que posso facilmente substituir prazer por lazer. Porque dá na mesma. Prazer que fica, ou efêmero? Que daqui a pouco já tem de ser substituído por outro e nunca tem fim?

Faço o gancho, então, para quem não é desta tribo. Nem corre, nem pratica esportes. Não precisa ser para entender. Basta pegar outro elemento de prazer. Um carro. Um carro novo. Um carro mais caro. Um carro mais caro, mais equipado. Uma roupa nova. Outra de outra cor. Outra de outro modelo. E outra e outra. Comida. Outro prato. Uma quantidade maior. Mais e mais. Bebida. Outra com outro atrativo diferente. Artesanal. Outro sabor. E outra e outra.

Vão me dizer que estou viajando. Tô não.

O prazer quando é genuíno, não precisa buscar a overdose. Entende? Tudo que é bom e não se sacia, vai por um caminho sem fim. E passa a nunca estar no momento presente. Porque imediatamente se obtendo o resultado esperado, já vive a frustração da falta de se ter algo além pra ser almejar e correr atrás. Faz hoje mas de olho naquilo que está lá longe da sua mão.

Pode substituir. Performance por ambição. E lazer pela alegria instantânea do simples. Aí, qualquer um vai entender do que estou falando. 

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

No passo de tartaruga


Saio todo dia com meu cãozinho. Duas ou até três vezes por dia. Antes que alguém suponha ser um saco, uma obrigação chata, já que ele só faz xixi e o “2” lá fora e que por isso depende de mim pra sair e aliviar suas necessidades básicas, já vou dizendo: é ele quem me presta um grande favor. Pois me faz sair do sofá e ir ver o dia lá fora! O lago, a pracinha, as ruas nos arredores de casa, próximo a mata e ir conversando com quem apareça no caminho.


Para quem vivia no meio da muvuca, rodeada de gente, na tribo da corrida, na tribo do pedal e por aí afora, não parece ser possível que eu esteja falando da mesma pessoa. De mim mesma. Mas estou. Ao ser obrigada, uma vez mais, a sair deste meio elétrico, incessante, que não pára nunca, fico  feito peixe fora d'água! (Ou seria, feito tartaruga fora d'água???) Perco o rumo. A identidade. A vontade de sair. E, creiam ou não, atolei no sofá, feito gente sedentária que só sai pra trabalhar. Mudei de lado. Saí da banda de lá, a que pertenço, de gente acelerada que não pára por nada, para experimentar à contragosto, a difícil sensação da inércia. E, pasme! Ela toma conta!

Existe, sim, a vontade. Desespero por voltar à ativa. E existe esta apatia. Mais fruto de bloqueios psicológicos do que da tantas limitações físicas que me acompanham há quase trinta anos.

É o seguinte: limitação física a gente vence. A gente dribla, treina, vai vencendo obstáculo por obstáculo. E cada degrau vai ficando menor e menor e ficando pra trás.

A cabeça quando não está boa, paralisa. Permite que na discussão dos dois lobos (o lobo mau e o lobo bom) o lobo mau ganhe. E te convença que você não é capaz. E o sofá cria cola e você entra em casa e não sai por nada…


Aí, entra em cena o meu cãozinho. Por ele, eu saio. Religiosamente, todo dia, até debaixo de chuva! Eu cuido dele e ele, sem saber, cuida de mim.


Neste tempo meu (again!) de recolhimento, é ele quem me faz sair de casa por ele. Umas caminhadas de meia hora, às vezes uma, duas, até três horas, com as devidas paradinhas nas sombras de árvores, nos bancos de praça, no gramado no caminho, pra não fazer, absolutamente, nada!

São estes passeios inocentes que me tiram a teia de aranha das pernas que já correram tanto, já pedalaram tanto, não perderam a esperança de voltar, mas só não conseguem encontrar ânimo. Por enquanto. Então, quando o passeio com ele é abreviado e voltamos rápido para casa, lá vem ele pelo caminho, no seu passo de tartaruga… Conhece? P…. A…. S….S….O…. D….E…. T….A….R….T….A….R…..U….G….A… Aquele que demoooooooooooooora pra chegar aonde quer que vá…..


Imagina…

Vem parando, mais do que já pára normalmente. Cheirando tudo no caminho e, de verdade, diminuindo até o tamainho dos seus passos! Quase um slow motion!...


Me divirto. Não dá nem pra ficar brava com ele. Dizem, cachorro é igual ao dono. Sei bem o que é fazer slow motion quando não se quer que algo acabe! Tipo, final de viagem, final de férias, final de algo que não se quer o fim. O Tufo (este é o nome do meu cãozinho!) sabe bem o que quer…

Bem, quem sabe esta tartaruguice toda que ando vivendo, seja o presságio de um tempo que signifique estar no melhor tempo, daonde não se quer sair… Afinal, tartaruga quando está dentro d'água, voooooooaaaaa...



domingo, 26 de novembro de 2017

Quero de volta o primeiro olhar!


Outro dia, chegando num salão, deparei-me com uma mulher que contava, entusiasmadanente, sobre o lugar onde estivera. Descrevia com tais detalhes, exprimindo de tal forma as suas sensações ao chegar e estar neste lugar que eu, embora pegando a conversa na metade, conseguia me ver neste lugar também. Dizia que a exuberância do lugar era tanta, a imensidão a fazia se sentir um pontinho minúsculo naquele lugar que só restou sentar, aquietar e sentir profundamente esta sensação de pequenez.
Qual não foi a minha surpresa, quando ela, prosseguindo o seu falar sobre seu encantamento por este lugar, foi passando as coordenadas de como chegar, onde ficar e, ao falar o nome da cidade, era um lugar conhecido de longa data por mim.

Resisti à vontade de palpitar sobre o lugar, ou querer mostrar que eu também conhecia. Ou que eu conhecia bem melhor do que ela que tinha ido uma única vez. Enquanto eu já havia perdido a conta das dezenas de vezes que havia estado lá em duas décadas, desde que havia pisado lá pela primeira vez.

Foi a melhor coisa que fiz!

Não há nada que supere o encantamento de quem esteve pela primeira vez num lugar. A descrição que ela fazia o tornava tão exuberante e continha algo que eu, naquela minha experiência de longa data, de tantas visitas, havia perdido. Quem visita pela primeira vez um lugar, deslumbra-se! Acende um brilho nos olhos que ofusca qualquer riqueza de detalhes permitido por quem vai repetidas vezes, sem renovar o seu olhar! O problema não é continuar indo neste lugar tão lindo. O problema é envelhecer o olhar…

Tchibum. Banho de água fria. Gelada. Quando a quantidade de olhares rouba a capacidade do encantamento de quem vê pela primeira vez, não adianta trocar o lugar. É preciso trocar o olhar! É preciso buscar lá dentro a peraltice de criança que não pára nunca de descobrir o mundo. Mesmo que os caminhos passem pelos mesmos lugares. Porque é o olhar que faz o lugar…

Talvez a riqueza da vida não esteja em buscar, incansavelmente lugares e estares diferentes. Mas em saber ter olhos que se encantem como se a cada vez fosse a primeira vez!


sábado, 18 de novembro de 2017

A máquina de escrever



A minha geração conhece a máquina de escrever. A geração de hoje, não.
A máquina de escrever a vida, tal qual como a velha máquina de datilografia, das aulas de I.T.T. para quem teve… Iniciação às Técnicas de Trabalho. Uma disciplina que fazia parte do currículo da 5ª série, que se alternava com Laboratório! E que em outras escolas variavam em aulas de Culinária, Costura, conforme o currículo próprio de cada escola.

Vou explicar.

Você pegava uma folha em branco, colocava a ponta do papel por detrás de um rolo e, rolando, manualmente, o papel entrava para o outro lado do rolo onde as teclas das letras alcançavam. Para serem impressas no papel através da batida da tecla, ao mesmo tempo em que a fita da máquina se movia junto da tecla e tocavam juntas no papel. Ah! A fita da máquina continha a tinta com o qual a letra, uma a uma, era “carimbada” no papel.



Isso.

Complicado? Vagaroso. Extremamente vagaroso para a velocidade com que as coisas são escritas e feitas hoje em dia.

Tem mais!

Você escrevia e quando errava… Papel escrito não se apaga com um toque. A tinta fica lá. Borracha, marcava o papel, borrava. Existiam até dois tipos de borracha. A rosa e a azul. A azul era para tinta. Era mais áspera. Feria o papel e com isso, arrancava a tinta. Mas marcava! E, às vezes, rasgava.

Com a tecnologia da época, evoluiu-se para uns corretivos. Bisavôs do Errorex… Eram tiras de papel pequeno que a gente colocava bem em cima do erro. Voltava o carinho da máquina para parar bem em cima da letra batida errada e batia de novo, com o papel corretivo sobre o papel, de modo que a fita da máquina não fosse junto e apenas a tecla batesse bem em cima. Para o “branquinho” cobrir o erro. Ah! Havia um recurso na máquina para estes casos. Uma tecla especial que fazia a fita não subir junto com a tecla para poder consertar o erro! Alta tecnologia da época!

Sim! Erros eram corrigidos um a um. Era trabalhoso. Extremamente trabalhoso terminar de datilografar uma folha de sulfite sem erro. Ou, no mínimo, com os erros devidamente corrigidos neste processo moderníssimo de apagar letra por letra batida errada.

Entro no assunto.

Será mera coincidência com a vida? A velocidade era outra. Os cuidados para se compor uma página de papel, ou da vida, eram artesanais. Um a um. E os erros eram tão cuidadosamente evitados, pois tinha-se muito trabalho para se corrigir, que não havia pressa. Mesmo que a pressa existisse. Os erros não eram deletados facilmente com um toque. O que se escrevia, ficava. Mesmo apagado, ficava a marca. Era perceptível quando havia acontecido um erro. Pra deixar a página perfeita, só se arrancasse a folha e começasse tudo de novo. Correndo o risco de errar de novo. E de novo. E de novo.



Hoje, veja só! Deslizo os dedos rapidamente sobre a tela do meu smartphone e quase que escrevo na velocidade dos meus pensamentos! Quanta evolução desde a tecla da máquina de escrever, teclado de computador, teclado de celular, touch e swipe, fora outras técnicas de se escrever com o comando da voz em que o aparelho ouve, de codifica e recodifica para a escrita debaixo do seu nariz, na tela do seu aparelho, I-ME-DI-A-TA-MEN-TE! Dá pra crer? E o detalhe: erros são apagados imediatamente! Num simples toque. E se deixar, o aparelho adivinha o que você quer escrever te dando sugestões de palavras dentro das que frequentemente você usa, pois ele tem uma memória e armazena o seu vocabulário habitual…

Pois bem. O que quero dizer com isso?

As pessoas estão perdendo a noção de que suas palavras, atitudes, tudo que fazem são tinta no papel dos outros. O mundo virtual pode até possuir a tecla delete. O backspace para apagar rapidamente, imediatamente as bobagens que escreveu. Ou erros. Tudo é deletável nesta tela. Tudo é escrito rápido demais. Enviado rápido demais, sem papel, sem o tempo de revisar se está tudo certo mesmo. Ortografia? Mais que isso. O conteúdo. Palavras são lançadas ao vento, como se com um simples delete, fossem sumir. E, muitas vezes a repercussão, os efeitos que causam são tão danosos que destroem páginas e páginas escritas. As vezes livros inteiros. Veja bem. Entendam como páginas, áreas, momentos de vida das pessoas. E por livros, a vida inteira de alguém!




A geração DELETE e BACKSPACE não conhece a máquina de escrever. Deveria conhecer! Pois a vida real acontece como ela. Cada página escrita é às custas de atenção a cada letra. Para não haver erros. Não é tão rígida assim que não se permita consertar os erros! Mas deixa claro que erros, deixam marcas que todos podem ver. Algumas vezes, é possível substituir uma folha com erros por outra. E começar tudo de novo que foi escrito naquela página. Como um trabalho. Um casamento. Uma faculdade não concluída. Amigos que passam e se vão. Quando você coloca nova folha, fica mais atento a não cometer os mesmo erros. Embora eles não apareçam nesta nova folha de papel, você os tem dentro da sua memória. E com eles, aprendeu. E procura na nova folha, fazer melhor!


A tecnologia conserta muita coisa. Mas ainda não inventaram uma máquina de apagar os erros da vida. É na máquina de escrever que se escreve a vida… 

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Curta a paz!


Estas fotos de pezinhos, típicas de encenarem paisagens pitorescas, em férias, em lugares sugestivos de sossego, paz parecem sempre estar a quilômetros luz de distância.

Ou não!

Podem estar no fundo do seu quintal. Bem ali, diante do seu nariz!


Quem não vive na correria?
E quem é que sai do meio da correria, por livre e espontânea vontade?

Eu não!

Eu sempre estou sendo guinchada do meio do meu corre-corre à força. Esperneio. Me rebelo. Mas não tem jeito!

Foram várias as ocasiões em que me puseram no banco. Fora de cena. Daquela que eu achava ser protagonista.. Muito bem encaixada e feliz. Aí, a vida prega peças e me vejo nos intervalos. Crente que a cena principal é aquela. Onde eu nunca paro. E sempre estou ativa, alucinada, fazendoendoendoendo…


Descobri que intervalos não são, de fato, intervalos. Não são tempos coadjuvantes ao outro. Que não param. Intervalos são senhores do seu próprio tempo, espaço e porquês. Eles ensinam na sua paciencitude. Na sua lentidão. Na sua ausência de tantas coisas a serem feitas. No anonimato. E na ausência total de vaidade e acontecimentos.

A todo intervalo, eu aguardava ansiosamente o fim dele. Pra voltar à ativa. Ao meu mundo. Ao meu centro. Ao tudo de importante para mim. Então, a gente percebe que isto que a gente considera tão importante, não tem esta fidelidade recíproca com a gente. Porque ele prossegue sem a gente. Com ou sem a gente, este mundo brilhante continua. A gente é só um pontinho em meio a milhares de outros. Então, a gente para, verdadeiramente, para pensar…

O riso espelhado pra fora nas tantas fotos, tem de espelhar o lá dentro. A alegria só permanece se for genuína! E o silêncio pode falar muito mais que o som estridente que não se cala nunca cá fora…

É exatamente o estar sempre fora do tempo. A ideia de nunca estar feliz porque o estar feliz está sempre no passado ou no futuro. E não conseguir enxergar o que se tem ao lado. Não saber apreciar o que a vida oferece no agora.


Intervalos são caminhos genuínos. Que mais do que levar aonde se pensa querer chegar, ou voltar, são mundos à parte com seus próprios encantamentos e ensinamentos. 

domingo, 12 de novembro de 2017

As palavras que eu não disse


Ontem, nos últimos minutos do dia, escrevi sobre minha mãe. Era aniversário do descanso dela. Ia escrevendo, pegando no sono e dormi com o texto sem terminar. Dormi e sonhei com meu pai. Nitidamente. Daqueles sonhos que, ao acordar, se lembra perfeitamente o que se sonhou.

Minha mãe estava junto. Mas a minha conversa era com meu pai.

Eu olhei pra ele, daquele jeitinho que ele sempre foi. Magrinho, com seus óculos, com sua camisa polo listrada de tons de azul e verde. Cheguei bem pertinho dele, abracei e falei. As palavras que nunca disse a ele…

Que as melhores lembranças que tenho dele são as viagens que ele fazia com a gente. Pequenas e gigantes aos nossos olhos de criança. Idas ao Rio Tibagi pescar. Lá longe na praia que era privilégio de poucos. A estrada como um gosto que significava prazer. Estar com pessoas importantes. Dentro do carro. E na chegada. Que viajar foi a melhor herança que ele me deixou. E que quando eu fazia isso, me sentia um pouco mais próxima dele. Como se ele estivesse comigo ainda…


Nunca cheguei a dizer isso a ele. Ele morreu muito cedo. Quando eu nem tinha coragem de pegar estrada. Na verdade, foi a morte dele que mexeu comigo ao ponto de eu acordar. Que a vida estava além do alcance dos meus olhos ao meu redor. E que o mínimo que eu devia fazer era ir um tiquinho além.

Creio que alguns tipos de amores vão além! Assim como esta estrada que  ele me mostrou ser infinita, a quem assim o quiser, seu amor ultrapassa o tempo e esta linha que determina a divisão do acontecido e o fim. Pois embora não esteja mais comigo, está! A cada vez que saio da linha de conforto e busco a estrada. O horizonte. O desconhecido sem me deixar intimidar. É como se ele estivesse comigo, sentado ao lado, curtindo a viagem junto.


Depois que ele morreu já há dezoito anos, prestei mais atenção na minha mãe. Falei coisas que me arrependeria se não falasse.

Quanto ao meu pai? Acho que este sonho de hoje foi uma espécie de segunda chance. Falei o que nunca disse e gostaria muito de lhe falar. Assim como a morte, o coma, o sonho entra numa dimensão misteriosa onde cada um tem sua opinião. Sua crença. E a comunicação entre as partes, cada uma do seu lado, pode significar aquilo que se leva pelo caminho.

P.S. Ele ficaria todo eufórico em saber que fui até o fim do mundo… Atravessei o oceano! Cortei a América do Sul e que a estrada me chama…







Que falta ela me faz!


11/11 Dia que Dona Estela disse adeus. Foi descansar. Não acho que tenha desistido de viver. Apenas estava fraca demais pra continuar e se deixou ir pra descansar.

Datas são fatídicas. Quando algo acontece numa data, ela se veste pra sempre com um nome, um cheiro, uma roupagem. 11/11 guarda o niver de três pessoas da minha vida. Três Erres. Rose, Rosana, Rogério. E há nove anos atrás passou a ser o dia do descanso da minha mãe. E que falta eu sinto dela no meu profundo egoísmo de querer ter ela ainda comigo!!!

Ela vinha sofrendo tanto ao longo de dois anos, que eu no alto da minha maturidade de filha que ama e entende que há um tempo para cada um e que existe o tempo de deixar ir, fui lá do ladinho dela conversar. Bem juntinho… Seus olhos falavam sem a voz falar. Olhos sofridos mas que me sorriam sem sorrir. Era uma conexão muda. Desnecessário a conversa por meios habituais. Eu falava, ela escutava. E consentia no olhar. Falei a ela sobre uma a uma de suas filhas. Nós. As quatro filhas da Dona Estela.


Parecia que ela precisava ouvir isso! O que cada uma fazia. O caminho que cada uma trilhava. E que estavam bem!

Uma a uma, falei à minha mãe da desnecessidade dela se preocupar conosco. Que estavam todas encaminhadas. Como se fosse necessário dizer. Acrescentei dizendo que eu e a Mariza ainda correríamos juntas um dia. Isto, eu cumpri. Só não consegui cumprir a outra parte da minha promessa para ela descansar sobre mim. Não, mãe. Ainda não vivi outra história de amor que falei à senhora que viveria. Ela sabia bem da história do meu grande amor vivido. E sabia de mim, tão bem quanto eu mesma. Ou mais… 

Ela me olhava com olhos fixos em mim, como se me dissessem que era isto que ela precisava ouvir. Poucas horas depois, enfim, descansou. Penso eu, que se preocupava  tanto com cada uma de nós, que não queria ir. E ouvir de mim sobre cada uma, lhe deu, de uma certa forma, um alívio. Que tudo ia dar certo, mesmo que ela precisasse sair de cena pra descansar... 


Minhas irmãs seguem o caminho dentro do conversado. Acima do falado com ela. Melhor. Ela estaria despreocupada sobre isso. Estaria feliz de conhecer seus bisnetos. Estaria com a cabeça branquinha como esteve nos últimos meses dela, quando deixou de pintar seus cabelos que sempre foram pintados naquele conjunto dela, de Dona Estela vaidosa, com roupas combinando, maquiagem impecável, aquela elegância que nenhuma de nós tem tanto como ela. Por mais que cada uma tenha seu jeito especial de ser.

Que lembranças tenho dela? Seus diversos modelitos de cabelo. Estela pianista. Estela violinista. Estela tenista. Estela nadadora. Estela dançarina. Estela discretíssima e quieta. Mãe da sacolinha de plástico que ela sempre me dava com algo dentro. E que quando eu teimava levar estes algos na mão, corria ela até o portão com a tal da sacola na mão… “Põe na sacola!” me dizia ela. Eu resmungava e obedecia! Que falta me faz!!!

Mãe costureira que costurou meus primeiros biquínis! Roupas de revista. Das blusas lindas de tricô e que pacientemente ela me ensinou e, apesar de não parecer, sei fazer muito bem! Graças a ela! Dos quiabos que ela fazia só pra me agradar e chamar como isca pra eu ir lá, quando ela estava com saudade de mim! E não tinha coragem de falar claramente. Apenas ligava, naqueles telefones de verdade, que você fala e não manda mensagem, e dizia pra mim… “Fiz quiabo!”

Mãe desengonçada quando se tratava de demonstrar carinho. Não sabia! Não recebeu de criança, não sabia fazer. Não dizia “Eu te amo”. Mas eu sabia o quanto me amava.


Esteve doente por longos anos. De uma serelepe saudável que impressionava pela disposição, mesmo sendo uma senhorinha, adoeceu se tornando uma franzina senhora que se cansava fácil. Já não dirigia. E não se entregava, em hipótese alguma, à dor, a desistir, a deixar de viver.

Teve muitas dores. Aliviava-lhe o inchaço das pernas, a massagem que eu lhe fazia. Puro xodó pra ganhar um carinho gratuito, o toque que ameniza a dor. Muito mais do que qualquer medicamento faria! Aprendeu a pedir! Coisa que não sabia. Pois se eu por algum motivo, tentasse ir embora me esquivando de fazer sua massaginha nas pernas, ela dizia… “Não vai fazer massagem?”

A doença da minha mãe, aparentemente, a levou de nós. Mas na verdade, trouxe a de volta. Parou o tempo para resgatarmos carinhos não feitos, palavras não ditas, o convívio sincero, sem máscaras, intenso! Pudemos nos dar o melhor presente uma a outra: estar presentes! Todo dia. Todo tempo disponível. Fazendo o tempo ser disponível para isso. O mais importante. Estar perto de quem se ama, incondicionalmente.

Tenho certeza! Se estivesse viva, seria meu ninho ainda. De retorno, toda que me  sentisse sozinha, insegura. Querendo apenas estar perto, quieta, de quem me compreende, mesmo que eu não diga nada. Estas linguagens que só o amor compreende. 

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Everest: Qual o preço que se paga?


Ontem assisti ao filme “Everest”.
Estou digerindo ainda…

Já comprei a versão digital do livro “Ar Rarefeito” que deu origem ao filme, com as inevitáveis discordâncias entre obra escrita e filmada. E vou ler na íntegra. Também já fui ler vários artigos sobre a tragédia no Everest, acontecida em 1996 que deu origem a livros de três sobreviventes. Três versões com contextualizações próprias do que cada um viveu e passou. Tudo isso nesta madrugada. Não é necessário dizer que fui dormir quase de manhã…

Por que me intrigou tanto?

A história tem como cenário o pico mais alto do mundo! Provavelmente, o sonho mais cobiçado em meio a alpinistas. Uma meta tão difícil de ser alcançada mexe demais com o lá dentro, como um vulcão adormecido em cada um de nós. O tal do sonho desenhado!


Não precisa ser, exatamente, o Everest. Cada um, na verdade, tem o seu Everest a ser alcançado. Assim como um dos meus livros preferidos - Operação Portuga - que fala de corrida, mas não é um livro de corrida, tendo ela como pano de fundo de outra coisa muito mais comum a todos, Everest não é uma história de alpinismo, embora fale dele. Ambas histórias falam de sonhos… E da busca deles.

Quando comecei a ver o filme, pausei e fui ver informações sobre o acontecido. Então, de antemão, soube das mortes, quem e sabia do contexto final. Mesmo assim, o filme prende do início ao fim. E quem já buscou sonhos, a custa de dores, sacrifícios, de escolhas onde algo é perdido ou deixado de lado em favor do foco necessário para a conquista destes sonhos, não importa o tamanho deles, sabe do que estou falando.


Everest trata de uma tragédia ocorrida devido a uma somatória de fatores. Mas o principal para ela ocorrer é só um. Ter tido os personagens no seu cenário. É exatamente o que o jornalista, escritor do livro e presente na expedição puxa numa conversa logo no início, mas que, infelizmente, não foi explorado tanto quanto eu gostaria de ter ouvido. Talvez por ter sido uma conversa breve mesmo, onde as pessoas têm dificuldade de pôr pra fora estes motivos.

O que faz uma pessoa ir buscar um sonho, mesmo que isso possa lhe custar a vida? O que cada um de nós faria ao se encontrar na situação de risco de morte, junto de outras pessoas que correm o mesmo risco? Por que há pessoas que necessitam tanto superar limites, depararem-se com intransponíveis, transpô-los e, sucessivamente, buscarem novos intransponíveis?


Insaciedade.
Inquietude.
Vazios.
Vaidade.
Superação… De quê?

Não é jogação de pedra. Pois se fosse, eu estaria, certamente, do lado de lá, onde as pedras estariam sendo jogadas! É uma inquietude que sempre esteve presente, também em mim e sempre provocou esta busca. Que gera satisfazeres efêmeros. Tão instantâneos, como passageiros. Mal se obtém, já não se tem. Feito bolha de sabão. Que ao mesmo tempo nos faz tão determinados e perseverantes, nos faz obstinados e eternos insatisfeitos. Pois sempre haverá um pico maior. Ou mais difícil. Sempre haverá uma distância maior a ser vencida para um corredor. Ou uma dificuldade nunca experimentada. Não há fim nesta busca. E pode ser que o desafio almejado tenha um preço muito alto a se pagar. Aí é a hora de estar a sós e com toda sinceridade se responder. Por quê?


Talvez, seja uma necessidade nascida junto com a gente de se sentir meio herói pra alguém. De ter reconhecimento. De escrever sua história e ter uma história pra contar. E muito melhor será se a história não for abreviada.

Uma coisa é certa. Nesta balança de comparações, o peso maior tem sempre de ser a vida. E não há nada, nada que justifique e compense pagar com ela. Mesmo, sonhos!

É exatamente quando se tem de reconhecer o valor do caminho caminhado. E não, somente, de se ter chegado ao alvo. Porque o aprendizado já acontece no caminho. E o fim dele tem de ser demarcado nalgum ponto onde se possa chegar e continuar. Pois se for o fim, não há como por onde ir…


(Estou desde ontem com o texto pronto e ruminando, ruminando revisando as palavras para ver se é isto mesmo que quero escrever! Não estou dizendo que alcançar sonhos não seja prazeroso. Concluir uma maratona, uma cicloviagem, uma viagem pra algum ponto incrível, um projeto de estudo, de trabalho, ter vivido uma história única são experiências que ficam conosco pra sempre!
Mas para cada sonho realizado, fica a vontade de eternizá-lo de alguma forma. Seja encarando outra nova história, ou repetindo-a ininterruptamente. Talvez, quem sabe, haja a necessidade de saber que cada conquista, cada portal de chegada seja único e já faz valer à pena tudo, mesmo que o caminho adiante não leve à frente. Mas seja onde se encontra a placa de retorno para que não se antecipe a chegada à placa do fim de tudo…)