Vamos conversar?

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sábado, 18 de novembro de 2017

A máquina de escrever



A minha geração conhece a máquina de escrever. A geração de hoje, não.
A máquina de escrever a vida, tal qual como a velha máquina de datilografia, das aulas de I.T.T. para quem teve… Iniciação às Técnicas de Trabalho. Uma disciplina que fazia parte do currículo da 5ª série, que se alternava com Laboratório! E que em outras escolas variavam em aulas de Culinária, Costura, conforme o currículo próprio de cada escola.

Vou explicar.

Você pegava uma folha em branco, colocava a ponta do papel por detrás de um rolo e, rolando, manualmente, o papel entrava para o outro lado do rolo onde as teclas das letras alcançavam. Para serem impressas no papel através da batida da tecla, ao mesmo tempo em que a fita da máquina se movia junto da tecla e tocavam juntas no papel. Ah! A fita da máquina continha a tinta com o qual a letra, uma a uma, era “carimbada” no papel.



Isso.

Complicado? Vagaroso. Extremamente vagaroso para a velocidade com que as coisas são escritas e feitas hoje em dia.

Tem mais!

Você escrevia e quando errava… Papel escrito não se apaga com um toque. A tinta fica lá. Borracha, marcava o papel, borrava. Existiam até dois tipos de borracha. A rosa e a azul. A azul era para tinta. Era mais áspera. Feria o papel e com isso, arrancava a tinta. Mas marcava! E, às vezes, rasgava.

Com a tecnologia da época, evoluiu-se para uns corretivos. Bisavôs do Errorex… Eram tiras de papel pequeno que a gente colocava bem em cima do erro. Voltava o carinho da máquina para parar bem em cima da letra batida errada e batia de novo, com o papel corretivo sobre o papel, de modo que a fita da máquina não fosse junto e apenas a tecla batesse bem em cima. Para o “branquinho” cobrir o erro. Ah! Havia um recurso na máquina para estes casos. Uma tecla especial que fazia a fita não subir junto com a tecla para poder consertar o erro! Alta tecnologia da época!

Sim! Erros eram corrigidos um a um. Era trabalhoso. Extremamente trabalhoso terminar de datilografar uma folha de sulfite sem erro. Ou, no mínimo, com os erros devidamente corrigidos neste processo moderníssimo de apagar letra por letra batida errada.

Entro no assunto.

Será mera coincidência com a vida? A velocidade era outra. Os cuidados para se compor uma página de papel, ou da vida, eram artesanais. Um a um. E os erros eram tão cuidadosamente evitados, pois tinha-se muito trabalho para se corrigir, que não havia pressa. Mesmo que a pressa existisse. Os erros não eram deletados facilmente com um toque. O que se escrevia, ficava. Mesmo apagado, ficava a marca. Era perceptível quando havia acontecido um erro. Pra deixar a página perfeita, só se arrancasse a folha e começasse tudo de novo. Correndo o risco de errar de novo. E de novo. E de novo.



Hoje, veja só! Deslizo os dedos rapidamente sobre a tela do meu smartphone e quase que escrevo na velocidade dos meus pensamentos! Quanta evolução desde a tecla da máquina de escrever, teclado de computador, teclado de celular, touch e swipe, fora outras técnicas de se escrever com o comando da voz em que o aparelho ouve, de codifica e recodifica para a escrita debaixo do seu nariz, na tela do seu aparelho, I-ME-DI-A-TA-MEN-TE! Dá pra crer? E o detalhe: erros são apagados imediatamente! Num simples toque. E se deixar, o aparelho adivinha o que você quer escrever te dando sugestões de palavras dentro das que frequentemente você usa, pois ele tem uma memória e armazena o seu vocabulário habitual…

Pois bem. O que quero dizer com isso?

As pessoas estão perdendo a noção de que suas palavras, atitudes, tudo que fazem são tinta no papel dos outros. O mundo virtual pode até possuir a tecla delete. O backspace para apagar rapidamente, imediatamente as bobagens que escreveu. Ou erros. Tudo é deletável nesta tela. Tudo é escrito rápido demais. Enviado rápido demais, sem papel, sem o tempo de revisar se está tudo certo mesmo. Ortografia? Mais que isso. O conteúdo. Palavras são lançadas ao vento, como se com um simples delete, fossem sumir. E, muitas vezes a repercussão, os efeitos que causam são tão danosos que destroem páginas e páginas escritas. As vezes livros inteiros. Veja bem. Entendam como páginas, áreas, momentos de vida das pessoas. E por livros, a vida inteira de alguém!




A geração DELETE e BACKSPACE não conhece a máquina de escrever. Deveria conhecer! Pois a vida real acontece como ela. Cada página escrita é às custas de atenção a cada letra. Para não haver erros. Não é tão rígida assim que não se permita consertar os erros! Mas deixa claro que erros, deixam marcas que todos podem ver. Algumas vezes, é possível substituir uma folha com erros por outra. E começar tudo de novo que foi escrito naquela página. Como um trabalho. Um casamento. Uma faculdade não concluída. Amigos que passam e se vão. Quando você coloca nova folha, fica mais atento a não cometer os mesmo erros. Embora eles não apareçam nesta nova folha de papel, você os tem dentro da sua memória. E com eles, aprendeu. E procura na nova folha, fazer melhor!


A tecnologia conserta muita coisa. Mas ainda não inventaram uma máquina de apagar os erros da vida. É na máquina de escrever que se escreve a vida… 

3 comentários:

  1. Se bem que de vez em quando um "Delete" ou um "Backspace" na vida é necessário. Apagar o que está atrapalhando e retroceder para "pegar fôlego"...

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  2. Aí é quando a gente arranca a página e começa outra nova, de novo! Novo trabalho. Novo casamento. Novos amigos. Reescrever um capítulo que não deu certo, guardando a folha rasurada e descartada pra gente...

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  3. O mais importante não é deletar o erro, mas sim observa-lo para ver o que podemos aprender com ele.

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