Vamos conversar?

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domingo, 12 de novembro de 2017

As palavras que eu não disse


Ontem, nos últimos minutos do dia, escrevi sobre minha mãe. Era aniversário do descanso dela. Ia escrevendo, pegando no sono e dormi com o texto sem terminar. Dormi e sonhei com meu pai. Nitidamente. Daqueles sonhos que, ao acordar, se lembra perfeitamente o que se sonhou.

Minha mãe estava junto. Mas a minha conversa era com meu pai.

Eu olhei pra ele, daquele jeitinho que ele sempre foi. Magrinho, com seus óculos, com sua camisa polo listrada de tons de azul e verde. Cheguei bem pertinho dele, abracei e falei. As palavras que nunca disse a ele…

Que as melhores lembranças que tenho dele são as viagens que ele fazia com a gente. Pequenas e gigantes aos nossos olhos de criança. Idas ao Rio Tibagi pescar. Lá longe na praia que era privilégio de poucos. A estrada como um gosto que significava prazer. Estar com pessoas importantes. Dentro do carro. E na chegada. Que viajar foi a melhor herança que ele me deixou. E que quando eu fazia isso, me sentia um pouco mais próxima dele. Como se ele estivesse comigo ainda…


Nunca cheguei a dizer isso a ele. Ele morreu muito cedo. Quando eu nem tinha coragem de pegar estrada. Na verdade, foi a morte dele que mexeu comigo ao ponto de eu acordar. Que a vida estava além do alcance dos meus olhos ao meu redor. E que o mínimo que eu devia fazer era ir um tiquinho além.

Creio que alguns tipos de amores vão além! Assim como esta estrada que  ele me mostrou ser infinita, a quem assim o quiser, seu amor ultrapassa o tempo e esta linha que determina a divisão do acontecido e o fim. Pois embora não esteja mais comigo, está! A cada vez que saio da linha de conforto e busco a estrada. O horizonte. O desconhecido sem me deixar intimidar. É como se ele estivesse comigo, sentado ao lado, curtindo a viagem junto.


Depois que ele morreu já há dezoito anos, prestei mais atenção na minha mãe. Falei coisas que me arrependeria se não falasse.

Quanto ao meu pai? Acho que este sonho de hoje foi uma espécie de segunda chance. Falei o que nunca disse e gostaria muito de lhe falar. Assim como a morte, o coma, o sonho entra numa dimensão misteriosa onde cada um tem sua opinião. Sua crença. E a comunicação entre as partes, cada uma do seu lado, pode significar aquilo que se leva pelo caminho.

P.S. Ele ficaria todo eufórico em saber que fui até o fim do mundo… Atravessei o oceano! Cortei a América do Sul e que a estrada me chama…







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