Vamos conversar?

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domingo, 3 de dezembro de 2017

Performance ou Lazer? Com que cara você corre a corrida da vida?


Para que você pratica atividade física?
A grande maioria vai responder “lazer”.
SQN.

Vou falar minha opinião, pela minha própria experiência e observação do que via e vejo hoje. Sou educadora física. Fui atleta da Ginástica Olímpica. Fui sedentária por anos. Retornei à atividade física por imposição médica. Na obrigação mesmo. Fui tomando gosto. Naquelas doses homeopáticas de endorfina, saudáveis, inofensivas. Adentrei o mundo da corrida sem querer, por acidente. Progredi. Descobri capacidades esquecidas. Desenvolvi estratégias de superação à dor que me possibilitaram e me mantiveram anestesiada por um lado e totalmente ligada por outro. Ao ponto de querer mais, sempre mais do meu corpo, que aprendeu a responder e ir além. Viciei. Fiquei cega e desaprendi o motivo dos meus primeiros passos na atividade física. O prazer! Porque o prazer que vem do lazer é prazer. O prazer que vem da performance é, bem. Os loucos entenderão. É loucura…

É totalmente polêmico mas vou ter o atrevimento de falar sobre isso.

Dou uma pequena volta pelo lago. Pelo aterro. Antes de virar modinha (minha forma rebelde de criticar esta explosão no meio fitness), as pessoas caminhavam, algumas poucas corriam sem tanta fantasia “eu sou runner”. O que era necessário? Vontade, pernas, uma camiseta qualquer, um shorts um tênis confortável. Só.

Não sou contra esta necessidade natural de pertencimento do ser humano, fazer parte de um grupo e estas combinações que foram surgindo de se correr em grupo. Torço o nariz quando a cor da camiseta (leia-se sou de tal assessoria), ser mais importante do que o prazer de correr. De um prestígio desnecessário. Assim como desnecessário é a parafernália de assessórios para mostrar que é corredor. Eu uso também, quando é necessário. Mas se quiser, corro descalça, de shorts jeans no gramado do aterro.

Lembro das aulas de Educação Física. O que eram aqueles educativos do atletismo? Chatos demais para quem não corria de verdade. Hoje, vejo gerações que odiavam estas mesmas aulas de Educação Física,  pagando pra fazer o quê? Educativos. Não são atletas profissionais, nem de ponta em meio aos amadores. E não estou tirando o devido mérito dos resultados destes mesmos educativos para quem os pratica disciplinadamente. Só não entendo o que faz uma pessoa se empenhar tanto por resultados, deixando de lado a sua busca primeira. Aquela que toda criança experimenta quando bota sua máquina de se mexer em movimento. P R A Z E R!

Uma coisa que passei a reparar e se vê muito por aí. Repare as caras de quem corre. Isso mesmo. Tem cara de feliz? Ou tem cara de sofrimento? Não ignoro o cansaço. Isso faz parte para quem está progredindo. Mas… Cara de sofrimento? Para quê mesmo você começou a correr? Então…

Hoje, no aterro, vi uma mulher fazendo treino na areia. Treino de impulsão, saltos realizados repetidamente. Hoje é domingo. Sozinha. Ficou algum tempo ali, exercitou e foi embora. Na hora me veio esta pergunta na cabeça. “Performance ou prazer?” Que posso facilmente substituir prazer por lazer. Porque dá na mesma. Prazer que fica, ou efêmero? Que daqui a pouco já tem de ser substituído por outro e nunca tem fim?

Faço o gancho, então, para quem não é desta tribo. Nem corre, nem pratica esportes. Não precisa ser para entender. Basta pegar outro elemento de prazer. Um carro. Um carro novo. Um carro mais caro. Um carro mais caro, mais equipado. Uma roupa nova. Outra de outra cor. Outra de outro modelo. E outra e outra. Comida. Outro prato. Uma quantidade maior. Mais e mais. Bebida. Outra com outro atrativo diferente. Artesanal. Outro sabor. E outra e outra.

Vão me dizer que estou viajando. Tô não.

O prazer quando é genuíno, não precisa buscar a overdose. Entende? Tudo que é bom e não se sacia, vai por um caminho sem fim. E passa a nunca estar no momento presente. Porque imediatamente se obtendo o resultado esperado, já vive a frustração da falta de se ter algo além pra ser almejar e correr atrás. Faz hoje mas de olho naquilo que está lá longe da sua mão.

Pode substituir. Performance por ambição. E lazer pela alegria instantânea do simples. Aí, qualquer um vai entender do que estou falando. 

2 comentários:

  1. Mulher!!
    Este seu "Clic" disse muuuuito! Pontual e lucido!
    Parabéns!
    Lacerda

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    Respostas
    1. Que bom que gostou!
      Você acertou... São CLICs mesmo! Andando, observando e escrevendo as histórias antes mesmo de escrever...
      Hoje foi assim!

      Excluir

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