Vamos conversar?

Vamos conversar?

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Portas, janelas, passagens e paragens...


Aqui, onde tudo começou! 

Estou no exato lugar onde tudo começou…


Há trinta anos atrás, estive pela primeira vez neste lugarzinho especial que mudaria minha vida. Retiraria vendas. Abriria janelas. Me mostraria possibilidades. Me diria que certas coisas são inacreditáveis… Até o momento que se ousa acreditar. Me afirmaria que há coisas belas, muito mais belas que as já vistas até então, para se ver e se viver.

Ao mesmo tempo em que despertou em mim uma luz fora do habitual, atiçando olhares curiosos que ansiavam por acordar, este lugar ficou adormecido, como se aguardando a melhor hora de entrar de vez em minha vida.


Os anos se passaram, minha vida acinzentou-se, janelas se fecharam e parecia que meu mundo não era bem aquele mundo que um dia eu havia desejado para mim. Cheguei a acreditar que era assim mesmo que eu deveria viver. Acreditar que quando as cores se vão da vida da gente, a gente tem mesmo é de acreditar que é assim mesmo, vida-sem-cor, camuflar-se junto ao cinza ao redor e hibernar, pra não dizer morrer…


Foi um chacoalhão tremendo que me acordou e me tirou desta inércia. Literalmente, uma morte. Do meu pai. Aquele cara viajeiro, com uma certa dose de irreverência pra convenções de dinheiro, que ganhava e gastava de uma maneira que não permitia acumular, mas permitia viver. Baita lição de vida! A melhor de todas. Como uma plaquinha simpática-simples-sábia que vi aqui, onde estou: 


”Esta casa é limpa o suficiente para ser saudável e suja o suficiente para ser feliz!” Bingo! Era assim que meu pai vivia! Sem dinheiro demais. Sem dinheiro de menos. O suficiente.

Perder ele de perto de mim me fez tomar a melhor decisão que eu poderia tomar. Ir! E eu fui!



Aqui estou!

Lugar de tantas passagens, de tantas paragens, de inícios. Onde minha vida virou do avesso pra me mostrar que era eu quem estava com a roupa no avesso! Esta roupa nossa de todo dia. Que se veste diariamente pra se viver!

Aqui redescobri vontades. Redescobri capacidades. E iniciei um caminho sem fim. 


A desta viagem que todo dia nos chama. Tantas vezes, falamos “não”, “deixa pra outra hora”, “não estou na melhor hora”, “não estou preparado pra viver isso” e deixa o tempo passar…

Foi necessário uma morte. A do meu pai? Que nada! Nao adiantaria ele morrer se eu não matasse em mim este monstro covarde que nós mesmos criamos e alimentamos dentro de nós! Que nos reprime. Que boicota possibilidades! Que não aceita presentes que a vida dá! Que nos amarra diante de uma imensa janela que se abre, botando medo mesmo, a gente inteiro querendo viver algo e este monstro ordinário, querendo enfiar a gente no quadrado da previsibilidade…


Presentes! A vida nos dá presentes! E se não nos atrevermos a esticar os pezinhos, o corpo inteiro pra enxergar além desta cerca que este monstro covarde planta ao redor de nós, não enxergaremos que há o dia depois, o espaço além, o próximo passo, o dia seguinte, seguinte, seguinte de algo que se experimentou viver e que se quer, ali além!


Assim foi com esta península que apareceu na minha vida, um dia. Assim é com histórias que se iniciam. Histórias de viagens. Histórias de paragens. Histórias que aparecem do nada, que podem ser aquilo que um coração vivido e atrevido ousar querer e viver…

Mas é preciso matar o monstro! Passar a cerca. Escancarar a janela, a porta e deixar passar... O que vem e  o que vai...


P.S. Meu pai foi fotógrafo amador. Certas coisas são herdadas sem nenhuma explicação. E fotografia pra mim, sempre foi algo nada profissional, tanto mais era amador. Por amor! E congelar imagens, passar por um lugar, captar a sua fala e querer capturá-la sempre foi algo presente desde criança. A combinação imagem-palavras foi a maneira mais autêntica e original que eu poderia querer para me expressar. Com o blog, brincando com a palavra CLICs, reinventei o que já existia em mim.
Neste post de hoje, exagerei desavergonhadamente nas fotos. Sede imensa de querer mostrar por imagens tantos pensamentos e sentimentos. Aí está! Uma viagem! Ou apenas a cerca por onde se atravessar e iniciar mais uma... 

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Como você fecha ou abre a porta é você quem sabe!


Estou numa casa de portas com trincos interessantes! Poderia ser apenas uma porta. Poderia ser apenas os mesmos trincos de sempre que abrem e fecham portas.

Mas não são!

A peculiaridade desses trincos logo de cara me chamaram a atenção. Charmoso demais pra passar despercebido! Um detalhe apenas que incita uma viagem. Bem ao meu estilo de olhar coisas no caminho e dali de um pequeno rabo de barbante, desfiar um novelo…

Na hora me vem a frase. “Como você abre ou fecha portas, é você quem sabe!”

O tempo todo no caminho as portas estão ali diante da gente. O tempo todo temos de saber por onde queremos passar. Passar por passar é o mesmo que nem sequer reparar qual é mesmo o motivo de você viver, escolher, ir ou ficar.

Portas entreabertas que incitam e convidam. Portas encostadas que permitem. Portas trancafiadas que algemam, engaiolam, matam. Portas, portas, portas…

Bom mesmo é sinalizar a sua diferença. A que veio. O seu estilo de viver, ali, marcadinho na porta. Quem ali chegar, já vai saber de cara se é uma porta para um cômodo cinza, pra uma casa sem vida, para um ambiente sem cor, odor, e dor.

Ou, por outro lado, se demonstra ser uma porta aquecida e com vida. Se há um toque de cor. De cor, de core, de coração. Porque portas podem ser passagem ou miragem. Podem trancar ou libertar. Podem ser o ponto final do caminho, ou apenas o princípio. E se você está do lado de dentro, ou de fora dela - e da sua vida - só você saberá dizer… 

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Amiga da amiga


Vou contar a história desta frase. Amiga da amiga.

Nesta viagem que estou fazendo, nos moldes das que sempre fizemos, volta e meia uso esta frase: amiga da amiga. É uma espécie de S.O.S. viagem, onde sempre encontro alguém pra me socorrer nas emergências. Muitas vezes, nem existe a amiga da amiga. Somos nós mesmos que somos a amiga da pessoa que acabamos de conhecer, conhecemos numa outra vez e que acabam dando socorro pra gente nalgum problema que surja.

Pra muita gente pode parecer improviso. Não é. São os bons recursos das amizades feitas no caminho. Aquelas conversas despretensiosas no posto de combustível lá longe, no caminho do Ushuaia e que nos acolheu na volta, oferecendo sua casa em meio a uma festa de família em plena época de passagem de ano. São conexas nascidas no Mirante, em cima daquele morro que todo mundo quer subir e sobe e a gente vê a pessoa se batendo pra encaixar tuuuuuudo ao redor naquela selfie e a gente oferece… “Quer que tire uma foto?” e está feita mais uma nova amizade. Elas surgem o tempo todo ser você quiser. Te dão dicas dos melhores lugares pra ficar pra ir visitar e das formas mais econômicas possíveis.

Prosa boa começa a qualquer hora! Viajando, então, nem se fala… Parece que viajar abre as portas. Escancara mesmo. Arreganha! A gente se despe de preconceitos, tudo é motivo para um dedinho de prosa. Dois. Três. Uma mão inteira!

Amiga da amiga é esta que me socorreu hoje, alugando um quarto da sua casa, porque soube através da minha-amiga-amiga-dela, que eu estaria passando por aqui sem ter conseguido reservar um lugar pra dormir.  Casa vazia, sozinha, lhe seria conveniente ganhar um troquinho e ter companhia por um dia ou dois, bem no estilo e viagem que gosto, de acomodações que se parecem e ter o espírito do hostel, da hospedaria, do Airbnb, do sofá que você disponibiliza na sua casa para viajantes feito eu.

São ganhos. Não sei se diria troca. Pois a intenção premeditada não é troca de favores, numa troca de moeda. Pode até acontecer de haver a moeda no meio. Mas são ganhos recíprocos nestas conversas. Um carece disso, vê no outro, se aproxima, pergunta curioso, sem saber, a gente atiça outros na nossa viagem! Sem saber, os outros com sua curiosidade um misto de admiração, nos fazem ter a certeza da coisa certa feita!

No final das contas, a gente coleciona amizades! Colhe no caminho. E quando menos se espera, está trocando conversa fiada, destas mesmo que não se paga nuuuuunca, nunca! Porque esta é das boas coisas que dinheiro não compra, nem paga.

Virou o ano


O que vira na virada desta página?
Páginas amarelas deixadas pra trás.
Será que sei quais são?

Luzes pipocando no céu!
Estouros anunciando que o velho se foi…
Foi.

Luzes apontando inícios!
Tantos sonhos pela frente…
Tantas vontades de caminhos diferentes.
Tantas curvas. Tanta subidas que me sugam a força, extenuadamente! E que, logo em seguida, me devolvem toda ela…

Este suor derramado não é em vão! Aprendo suando. Aprendo chorando. Aprendo gargalhando. De toda forma aprendo. E é nisto que tenho e tento me concentrar. Porque sem suar, sem passar pelo que tenho de passar, não aprendo. Apenas passo. E passa o tempo.

Algumas coisas me foram e me são ensinamentos preciosos!
Acampar me ensinou que não há necessidade de tanto para viver, dormir, viver, ser feliz. Além disto é excesso e supérfluo.


Viajar em bicicleta ensina que você tem de levar o necessário consigo. O necessário. É preciso aprender a desapegar. Deixar pesos desnecessários. Porque naquela subida comprida, este não desapego vai te cobrar com suor a mais! E pode doer…

A bicicleta ensina a ir um passo de cada vez. Um pé. Depois outro. De novo, o primeiro. De novo, o outro. Sem desistir! Pode ser uma marcha lenta. Mas funciona! O velho “devagar e sempre”!


As viagens me ensinam sempre. Diferenças. Conflitos. Problemas. Ser prático pra solucionar. E, se solucionado está, próxima etapa, por favor. Logo vem outra curva. Outra subida. E é preciso ter foco e minimizar o que se resolve, rapidamente, com o plano A… B… C…. Se preciso for, o alfabeto inteiro! Porque é preciso flexibilidade pra não quebrar. E a vida é um compêndio de mini viagens que se somam formando uma.

Ainda há muitas, muuuuuuitas coisas que não entendo. E me surpreendo porque, realmente não é a insolução que permanece. E sempre que estou no meio de um afogamento, vejo que não vou me afogar. Vejo que muita onda já passou. Vejo que muita coisa já compreendo. E isto abranda a inquietude do coração.

Hoje é mais um primeiro do ano. Mas as coisas todas desejadas e almejadas não tem de acontecer todas hoje! Pelo contrário.. Precisam ser semeadas no caminho. Não todas de uma vez só. Pois precisamos colher o ano inteiro…

O ano virou. De verdade, gosto mais de quando vira o dia! O dia é imediatamente seguido de outro e outro. Uma sucessão de novas chances a cada dia. Me parece que a virada de ano tenha lá uma cara de campanha política. Muitas promessas no ardor dos estouros e relampejos que cegam. “Ano que vem vai ser melhor!” “Eu prometo! Eu prometo!” E passa o primeiro dia, o segundo e nunca vem o prometido…

Bom mesmo é reconhecer que todo dia é um novo ano que se inicia. O próximo 365 dias seguintes. E que bom mesmo é acordar a cada dia com a vontade renovada, permitir-se a chance do “outra vez”, do “outra coisa”, do caminho novo, do caminho velho, do continuar caminhando.

Porque o ano vira só se você virar a esquina, a página, a curva seguindo em frente!